EVILÁSIO J. ARAUJO
Coordenador jurídico da CAIXA, no seu Juridico Regional em Brasília, Professor do Centro Universitário de Brasília, Especialista em América Latina, pela UnB, e Representante do Brasil em eventos estratégicos nos EUA e Alemanha, e agora mestre em Relações Internacionais
Autor do livro "Terrorismo Internacional: Fundamentalismo Religioso e Globalização" (2004), a partir de sua dissertação de mestrado.
ARAÚJO, Evilásio J. Cenas e sendas. Poesias. Capa e ilustrações: Márcio Olímpio de Souza. Prefácio de Elvira Nicia ontenegro. Brasília, DF: AAG – Indústria Gráfica Ltda, 1984. 133 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda.
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CENAS
Sinto-me em cada rua e beco da vida
A desvendar as opções, ofensivas e lances,
Na tentativa de bloquear malhas e tramas
E de transitar nas passarelas e capas de revistas.
Encontro-me com os laudos, o luxo, a rixa,
E não pleiteio o que me for confiscado
Pelas tropas aliadas da trajetória,
Que me causaram traumatismos íntimos.
Luto para convencer-me de convencional posse da terra,
E já não aceito a autenticidade das loas.
Perco-me ante a turbulência política
Que mescla o meu café com letras de jornais.
Mas não deploro os apertos no trem,
Os horários e as panes das saídas e chegadas,
Sou concorde com planos transcendentais,
Com buscas e encontros bem na origem das lutas.
E vão ruindo os estigmas, massacres.
Entre tudo, sou um todo contemplado,
Com a vantagem de quem assiste, à distância estética,
O último pulsa de uma parada de sucessos.
Então, vais são emitidas e vozes rudes.
Executivos resvalam para planos inclinados.
Quando se ovacionam os menos hábeis,
Contemplo o paradoxo entre o sucesso e o retrocesso.
Vejo-me à praça dos encontros históricos,
Onde repúblicas e impérios se cruzam e caem.
Numa esquina, discussões dos ecossistemas
Tornam impossível decifrar intempéries iminentes.
Mas, enfim, recupero o melhor senso,
Que o bom é inexpressivo ao rígido talante:
Sou livre, sou desvendador de rumos.
E não tenho lutas internas, mil expressões faciais.
Desconheço qualquer indício de tempos avulsos,
Nem sei o peso de desencontros existenciais.
Minhas pugnas são circunstanciais no espaço,
Acima das cores, refrões e diálogos mudos.
Presumo, com ardor, que o pó sossegará
Após a luta entre a oração e o desejo,
Porque do mundo passarão as cenas, os ecos,
E tudo será completo no amanhã de ouro.
UMA VOZ
Todo homem é uma voz;
Mas pode ser mais que uma:
Não duas, mas uma voz que soa,
Que se difunde — por ser mesmo boa,
Por ser um eco forte,
Que sublime mensagem comporte
Desde que, nesta, a realidade não suma.
Todo homem é uma voz,
Mesmo que um murmúrio apenas...
Pois há os que, calados,
Emitem sons que quebram fardos,
Que não se omitem — tal Pilatos:
Eles gritam por meio de seus atos
Embora os tenham por sombras pequenas...
Todo homem é uma voz,
Quando a usa sem mostrar o “eu” somente,
Quando a traz a lume sem semitons,
Quando não faz de seus empenhos, mesmo os bons,
Uma desculpa para fugir — tudo quimera/
Sim/ A voz que não prediz só primavera
— Que tudo diz, ao equilibrar coração e mente/
POEMA SEM NOME
Um caminho, uma vereda, um atalho;
Um riso, um sorriso, um alegre semblante;
Um lenho, um ramo, um galho;
Um tempo, um momento, um instante.
Um lar, uma casa, uma morada;
Um passeio, uma viagem, uma ida;
Um emblema, um símbolo, uma marca dada;
Um existência, um ser, uma vida.
Um chefe, um patrão, um senhor;
Uma luta, uma guerra, um duelo;
Um carinho, uma afeição, um amor;
Uma corrente, um grilhão, um elo.
Um sono, um cochilo, um adormecer;
Uma escola, um colégio, uma faculdade;
Um soletrar, um rabiscar, um saber ler,;
Um bem, um prazer, uma felicidade.
Um dedo, uma mão, um abraço;
Um bater com o pé, um sacodir, um dançar;
Um riscado, uma linha, um traço;
Um crer, um aceitar, um afiançar.
Um pão, uma merenda, um almoço;
Uma gota, um copo, um mar d´água;
Uma greve, um tumulto, uma alvoroço;
Uma tristeza, uma dor, uma mágoa.
Um som, uma música, uma harmonia;
Um turbante, uma luz, um novo dia;
Um susto, um espanto, um problema.
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ANTOLOGIA DE POETAS DE BRASÍLIA. Rio de Janeiro, DF: Shogun Editora e Arte Ltda, 1985. 140 p. Coordenação editorial: Christina Oiticica.
[Este exemplar foi doado por Carlos Edmundo da Silva Arnt, que tem seu poema na p. 27, para a biblioteca da Caixa Econômica, de Brasília, em 1985. A empresa se desfez do acervo e este exemplar foi para a livraria “sebo” de nosso amigo José Jorge Leite de Brito, que por sua vez nos doou um lote de livros para ajudar na montagem de nosso Portal de Poesia Ibero-americana, em 2021. A editora explicava: “Se você é um autor novo e quer editar seu trabalho, fale com a gente.”, na intenção de promover a criação literária entre os jovens. ]
MEU CANTO AMERICANO
Nesta América do Sal
Cada lema lembra a cal
Que resiste a todo o mal
— Lendas, mito e coisa e tal...
Desta América do Céu,
Sangue jorra como mel
E transforma o torpe réu:
Tanta ideia voa ao leu...
Nossa América do Cio
Contagiante, raças mil.
No suor, o sêmen do rio;
No amor, o sonho mais pio...
Essa América do Sol
Contagiante em cada mol.
Verde e azul, grande rol
De nomes, torcida, gol.
Essa América do Sul
Não é mais aquela “cul-
De-lampe” vendida por pul.
Temos sal, céu, cio, sol, sul.
América-Sal de Bom Tempo já sua!
América-Céu do Dom Vento vem nua...
América do Som mente na rua;
América Sul do Tom quente tem lua!
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VEJA E LEIA outros poetas do MARANHÃO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/maranhao.html
Página publicada em janeiro de 2021
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